sábado, 10 de março de 2012

O badalar da Ave-Maria



Frente à imensidão do cair da tarde, a Baia de Todos os Santos se descortinava em um cenário nunca repetitivo aos olhares embebecidos dos que se debruçavam a mergulhar sobre si mesmo, numa conversa inadiável diante daquela contemplação. O mar de cor índigo, em estado de completo silêncio, imóvel, se propunha a ouvir o comunicar dos corações dos que ali se rendia ante sua beleza inusitada de verão. A densa vegetação praiana de um verde musgo circundava a paisagem, ornava num ritual de festa a comemorar mais um final de dia; o pôr do sol que decaia lentamente por entre as nuvens, ao tocar o horizonte, anunciava o término de mais um dia nossa existência terrena. A natureza aquietava-se numa integração harmoniosa e silenciosa.

Casais a bebericar gelados refrescos, risos e conversas, celulares, bate-papos amigos e troca de amores, todos a usufruir aquele espetáculo natural e divino, onde a branca igrejinha de Sto. Antônio, no alto do morro, consentia com a sua presença paroquial a confirmação dos encontros amorosos em juras de amor eternos. Todos se sentiam pequeninos diante da natureza que se apresentava gratuita e humildemente a todos que ali se achegavam.

Seis horas! Os corações se aquietam, respiração pausada, ouvidos atentos e conversas cerceadas - todos escutam calma e amorosamente o badalar rítmico dos sinos da catedral a tocar a ave-maria, numa beleza inconfundível de sons combinados, aquietando nossa alma e fazendo-nos lembrar da existência de Deus!

Momentos em que se comemora a vida, e que emocionados nos dirigimos à divindade em oração de agradecimento pelos olhos que nos permite vê tamanha beleza, pelos nossos pés que nos levaram até ali, pelas nossas mãos que tocam e acariciam, pelo alimento que deliciamos em comunhão, pelos ouvidos que nos permite escutar a vibração dos sons, a sensibilidade de perceber o que nos cerca, o perfume que nos envolve e o sentir e vibrar do nosso corpo e psiquismo - esta maravilhosa engenhosidade até então, tão desconhecida e muito ainda, a ser explorada pelos humanos.

É a vida que pulsa, que relembra o até então vivenciamos, recheada de experiências que nos prepararam a escalar os degraus do nosso cotidiano.

Nada a dizer, diante do que é visto, o estado de mudez é a própria oração, tamanha a nossa insignificância e impotência ante a Criação. Só nos resta agradecer pela vida e pela a bela e infinita bondade do Criador que nos proporciona tamanho presente, ao abrir clareiras diárias na passagem onde floresce a reflexão, o crescimento e o caminho.

Socorro Prado

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