Lembro-me da
minha babá que me punha na rede a cantarolar músicas jamais esquecidas por mim,
a pentear meu enorme cabelo cheios de cachos todas as manhãs, calma e
amorosamente, com uma paciência e ternura inesquecíveis. Das guloseimas,
biscoitos de nata e maravilha coberto em alvo guardanapo servido com suco de
jabuticaba, nas tardes ensolaradas e escaldantes do verão nordestino; quanta delicadeza
imprimia aquela mulher em gestos suaves e delicados, que me fez acreditar em um
mundo possível de trocas amorosas.
Acho que estou fora de moda, pois acredito que
a perda deixa um vazio, e quando crescemos e nos tornamos adultos são as
recordações, as saudades destas pessoas que as tornam encantadas, pois são elas
que nos fornecem o colorido das nossas florescências infantis, acalmam e
enriquecem nossas vidas. Podermos ir lá sempre que quisermos, neste mundo
particular e maravilhoso. As histórias
que vivenciamos enriquecem a vida e quando estamos tristes e angustiados podemos
recorrer a estes momentos, porquanto eles têm o poder de modificar o dia a dia,
de transformar as nossas angustias e medos em canções e filmes a relembrar. Só
assim, os desafios das nossas vidas perdem o poder de nos incomodar tanto,
ficam mais amenos e fáceis de suportar. E nossas crianças que moram dentro de
nós passarão a possuir um rico material para sobreviver neste mundão de meu Deus,
principalmente, aquelas em que o medo da solidão se faz presente.
Socorro do Prado
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